A missão espacial Ariel é “adoptada” pela ESA
A missão espacial Ariel, com lançamento previsto para 2029, foi “adoptada” pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) no passado dia 12 de Novembro durante a reunião do Comité do Programa Científico da Agência. O que isto quer dizer na prática é que a missão passou da fase de estudo à fase de implementação, um marco sensível no planeamento de qualquer missão espacial. A Ariel havia sido seleccionada em 2018 como a quarta missão científica de classe média (M4) do programa Cosmic Vision da ESA. Lembro que o antecessor da Ariel, o candidato a missão EChO, havia perdido para a missão PLATO a selecção como missão M3 em 2014.
A Ariel (Atmospheric Remote-sensing Infrared Exoplanet Large-survey) aborda um dos principais temas do programa Cosmic Vision da ESA: Quais as condições para a formação de planetas e o aparecimento de vida? A Ariel vai estudar de que são feitos os exoplanetas, como se formaram e como evoluem, sondando para isso uma amostra diversa de cerca de 1000 atmosferas planetárias simultaneamente no infravermelho e no visível.
A Ariel é a primeira missão dedicada à medição da composição química e estrutura térmica de exoplanetas. Permitirá assim estabelecer a ligação entre a química desses planetas e o ambiente da estrela hospedeira onde se formaram, ou mesmo perceber se o tipo de estrela hospedeira determina a física e a química da evolução do planeta.
A minha participação no consórcio científico da Ariel iniciou-se há cerca de dois anos. Dentro do consórcio, coordeno um grupo de trabalho que tem como objectivo a caracterização por via da asterossismologia das estrelas pertencentes ao catálogo da missão. A este objectivo soma-se ainda a determinação da idade e massa destas estrelas de modo homogéneo, vertente do meu trabalho que descrevo em maior detalhe de seguida.
A determinação exacta e precisa das propriedades fundamentais das estrelas constitui um passo decisivo para a caracterização detalhada dos seus sistemas planetários. No entanto, tais quantidades são normalmente encontradas na literatura científica como resultado de análises pontuais realizadas por diferentes grupos. Ora, isto resulta num levantamento heterogéneo de estrelas com planetas.
No Red Book, ou relatório do estudo de definição da missão, apresentamos uma análise homogénea das estrelas pertencentes ao catálogo da Ariel. O nosso pipeline usa métodos bayesianos a fim de se determinarem as propriedades fundamentais das estrelas (p. ex., idade, massa e raio), fazendo corresponder um conjunto de constrangimentos observacionais a uma grelha pré-calculada de modelos de evolução estelares. Usamos para esse fim uma combinação de constrangimentos espectroscópicos (temperatura efectiva e metalicidade) e fotométricos obtidos a partir de fontes fidedignas, juntamente com paralaxes provenientes do satélite Gaia. O resultado final é um catálogo homogéneo de idades e massas das estrelas pertencentes ao catálogo da Ariel.
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